sábado, 19 de março de 2016

TODA EMPÁFIA VAZIA SERÁ CASTIGADA

Muitos se sacrificaram para pagar R$ 400,00, R$ 200,00. Preços exorbitantes para a realidade local. Mas a diretoria do Confiança tinha a certeza. Era a oportunidade de 2016. O Flamengo não pisava em Sergipe havia 13 anos. Colocou e vendeu os 15.580 ingressos para o Batistão. Estádio humilde, ultrapassado, de 46 anos. Cujo maior orgulho foi ter servido de treinamento da Seleção Grega na Copa de 2014. A reforma de R$ 25 milhões não disfarça o atraso. Todos os ingressos para a partida da Copa do Brasil de ontem foram vendidos. Antecipadamente. A arrecadação quebrou recorde em Sergipe. Nada menos do que 1.564.700,00. A folha de pagamento do Confiança,time da Terceira Divisão, é de R$ 180 mil. A do Flamengo, passa dos R$ 6 milhões. Só o salário de Muricy Ramalho chega a R$ 500 mil. Não havia comparação entre os elencos.

Depois de fazer o favor de entrar nos humildes vestiários do Batistão, os jogadores estavam prontos. Iriam cumprir sua obrigação. Seria fácil como escovar os dentes, posar para uma selfie, comprar um carro importado sem pagar os devidos impostos. E tudo começou bem demais. Aos oito minutos do primeiro tempo, Elielton acertou violento chute no rosto de Ederson. Oito minutos do primeiro tempo! O poderoso Flamengo teria 82 minutos de tempo normal. E mais os minutos de prorrogação para se deleitar. A vingança estava garantida. Bastaria jogar sério. Não teria como. O técnico Betinho, ex-jogador do Palmeiras, tratou de montar seu time com três zagueiros, uma linha de cinco. E, desde a expulsão de Elielon, apenas Leandro Kivel na frente.

Diante de um adversário humilde como o Confiança, com um homem a menos, os cariocas tiveram 77% de posse de bola. Mas não souberam o que fazer com ela. Trocas mais de 300 passes de um metro, de lado, carimbar a bola, não significa nada. É preciso penetração, arremates, sincronia. Velocidade, seriedade. Nada disso o time carioca mostrou. E ainda foi castigado com uma patética furada de Rodinei. A bola caiu no pé esquerdo de Everton. O chute foi indefensável para Paulo Victor. Os humildes de Betinho ousaram vencer os Deuses do Olimpo de preto e vermelho. A diretoria do Confiança quase enfartou de tanta felicidade. Ficou com o total da arrecadação. Com o que sobrou da distribuição para os torcedores ilustres, a alegada cortesia. Essa é a regra na Copa do Brasil. Renda total do mandante em caso de vitória.

Mas mesmo derrotado, o Flamengo manteve sua empáfia.

"A gente não jogou nada. Tivemos chances de matar o jogo e não conseguimos. Eles só tiveram uma chance", dizia Muricy, sem destacar o fato de conseguir perder para um adversário muito inferior tecnicamente. E atuando por 82 minutos com um a menos. Ele deveria se desculpar. Mas isso é algo impensável para os nossos 'professores'.

"Futebol é isso. Nos reserva surpresas e algumas vezes desagradáveis. Nosso time é muito mais que o deles. Com todo respeito, a equipe deles é limitada. Eles se defenderam completamente durante todo o jogo. Acharam um gol, mas é ter tranquilidade e reverter." Esse é o resumo de Sheik da derrota em Aracaju.

A Copa do Brasil reserva esses contrastes.

O choque de realidade. E prova o quanto o futebol brasileiro segue atrasado. Não nos clubes humildes, sacrificados, longe da mídia e do dinheiro.

Mas os grandes.

Cada vez menores, com jogadores menos talentosos e mais egocêntricos. Treinadores que copiam esquemas europeus com anos de atraso. Mas tudo isso não espanta a empáfia, a arrogância. O futebol deste país comete o pior dos seus erros. Olha no espelho, faz pose. E tenta se enganar. Segue estagnado.

Como são pequenos os times dos grandes clubes brasileiros...

Fonte: esporte.r7.com