terça-feira, 27 de março de 2018

A DESTRUIÇÃO DO MARACANÃ

O TEMPLO DO ESPORTE DEU LUGAR A UMA "ARENA" SEM ALMA

     O Maracanã já foi do povo, tentou ser da elite e hoje é de ninguém. Em seus 68 anos de existência, vem cumprindo um destino que tinha tudo para ser grande, imenso, mas que acaba sendo o mesmo de velhos estádios demolidos em nome do progresso. Só que, para o Maracanã, o progresso andou para trás. O que já foi o maior, o mais famoso, o mais sagrado templo esportivo do mundo, é hoje um monumento à incúria.
  Quando o Flamengo desembolsou R$ 1 milhão para que os refletores do estádio possam iluminar seus 4 x 0 sobre o San Lorenzo (e outros tantos reais para que a torcida testemunhe a vitória com um mínimo de respeito), ficou claro que o Maracanã já não era mais o mesmo - e não só arquitetonicamente. Não era o mesmo no corpo e na alma.
    Sim, certos estádios de futebol têm alma. O primeiro Wembley, O Santiago Bernabeu, La Bombonera tinham até personalidade. Dizia-se que eram estádios "que jogavam", pois era difícil a uma equipe visitante resistir à temperatura da torcida local. O velho Maracanã, ao contrário, sempre se impôs pela neutralidade. Não jogava e deixava jogar. Sua alma estava justamente em permitir que, maior que fosse o coro das arquibancadas, ali sempre podia vencer o melhor.
   ...Também não se exagera quando se diz que o Maracanã se elitizou. Ou melhor, voltou-se para uma elite capaz de pagar caro por um espetáculo antes barato. Qualquer um podia desembolsar quase nada para ver seu time jogar no velho Maracanã, é verdade que o sol ou a chuva, em pé, pescoço espichado, como todo fiel "geraldino". Mas mesmo o ingresso da arquibancada custava pouco, tão pouco que podia ser adquirido pelas 120 mil pessoas que tomavam os degraus de cimento em dias de lotação esgotada;

FLA X BOCA/ ZICO X MARADONA
  ...E aí...tudo mudou. Tornou-se realidade quando o Brasil (leia-se: Presidência da República, governos de estado, prefeituras e, claro, CBF) concluiu que já era hora de voltarmos a sediar uma Copa do Mundo. Para isso, novos estádios, obedientes ao chamado "padrão FIFA de qualidade", teriam de ser construídos pelo país afora. festa das empreiteiras contratadas para construir os estádios, agora denominados "arenas". Festa dos órgãos públicos que bancariam tudo para não ficar com nada além do reconhecimento das empreiteiras. Festa da CBF e da FIFA, que fariam uma Copa do Mundo moderna, e melhor, rendosa. Festa enfim das autoridades envolvidas, pois todos - presidente, governador, dirigentes da FIFA, cartolas da CBF - apoiaram e até bancaram a grande festa.
   Como em 1948, as obras do novo Maracanã foram feitas com dinheiro público. De início, algo próximo a R$ 1 bilhão. Claro, somem-se a isso mais R$ 211 milhões em nome dos superfaturados. Uma vez concluída, a "arena" foi entregue de graça ao grupo de empreiteiros.
     Em resumo, o velho Maracanã já não existe. E o novo, adormecido, fechado, abandonado, quase esquecido, sem dono, sem futuro, sem alma...não é de ninguém.

Por João Máximo (Jornalista e escritor)