domingo, 11 de dezembro de 2011

AUTOR DO GOL MAIS RÁPIDO DO BRASILEIRO VAI DA IDOLATRIA AO ESQUECIMENTO


Foto: Elton de Castro/Globoesporte.com
'O mundo dá muitas voltas'. A filosofia popular ganha contornos de realidade ao se olhar a vida de Nivaldo, ex-atacante e ídolo do Náutico. Infância pobre, sucesso no mundo do futebol, idolatria, alcoolismo e esquecimento.
Roteiro facilmente encontrado nos cinemas, que conta a história do ex-atleta, que hoje trabalha como carregador numa lavanderia. Nascido no dia 05 de fevereiro de 1968, no município de Catende, na Zona da Mata de Pernambuco, a 142 km do Recife, Nivaldo surgiu para o futebol em 1988, quando chegou ao Náutico depois de se destacar nas categorias de base do extinto Paulistano.
     Mas foi em 16 de outubro de 1989 que o jogador realizou uma jogada que o fez ficar marcado na história do futebol brasileiro. O lance aconteceu aos oito segundos do duelo contra o Atlético-MG. Na ocasião, Nivaldo recebeu a bola do meio-campo Augusto, contou com a sorte para dominar e, da entrada da área, chutou de pé direito para abrir o placar contra o mineiros. O jogo terminou com a vitória alvirrubra por 3 a 2, mas para o atacante o resultado da partida pouco importa. Afinal, o grande feito da noite foi o recorde, que já dura 22 anos: o gol mais rápido do Brasileirão.

Idolatria e sucesso

     As boas atuações pelo Náutico fizeram com que o jogador virasse ídolo da torcida. Ao lado do centroavante Bizu, Nivaldo formou um dos melhores ataques que o clube já viu. Com isso, o futebol do atacante passou a chamar a atenção de clubes como Corinthians, Guarani e Cruzeiro. No início da década de 90 o jogador acertou sua ida para a Raposa e recebeu um ajuste salarial de mais de 300%, dinheiro que o ex-jogador jamais sonhou em ganhar.

O começo do fim

     Entretanto, o dinheiro e a fama não trouxeram só benefícios ao jogador. Junto à notoriedade veio o deslumbramento e Nivaldo começou a escrever seu 'epitáfio' como profissional com o consumo exagerado de bebidas alcoólicas.
     O alcoolismo fez o atleta perder espaço no Cruzeiro, que tentou emprestá-lo para outras equipes. Porém sua fama de indisciplinado já corria no mundo da bola e Nivaldo passou a ser rejeitado por algumas equipes. Entre elas, o Atlético-PR, que na época era comandado por Hélio dos Anjos.
     Sem espaço no sudeste do país, Nivaldo foi emprestado ao Sport, em 1992, que tentava formar o mesmo sistema ofensivo que fez sucesso no Náutico. Para isso, foram contratados Bizu e Augusto. Mas o time não engrenou e quatro meses após sua contratação, Nivaldo foi dispensado do clube.
     Do Sport, o Nivaldo seguiu para Ponte Preta. Mas seu futebol ficou longe de ser o mostrado nos áureos tempos de Náutico. Com isso, o atacante passou a atuar em pequenos clubes do futebol pernambucano até encerrar sua carreira há três anos, jogando pelo time da sua cidade natal, Catende, pela segunda divisão do Campeonato Pernambucano.

O fundo do poço

     Os constantes fracassos na carreira fizeram o atacante mergulhar de vez nas bebidas. E a mistura entre alcoolismo e gastos excessivos fez o atleta perder quase tudo que tinha conquistado no futebol.Mas o grande golpe na vida do atacante não foi uma rescisão contratual com algum clube. O atacante ficou sabendo que seu irmão estava com um tumor na cabeça. Para salvar a vida do familiar, Nivaldo vendeu tudo que lhe restava com o intuito de colocá-lo nos melhores hospitais.

Fim do alcoolismo e a felicidade encontrada no carinho

     Sem dinheiro, tendo que encerrar sua carreira em clubes inexpressivos e com dificuldades para se manter, Nivaldo voltou para Catende e afundou ainda mais no álcool. Lá, o ex-atacante não sabia mais o que fazer para conseguir algo que lhe ajudasse a se sustentar. Era necessário largar o álcool e para isso ele contou com a ajuda de sua filha, Ellen Samira.
     Sem espaço em Catende, Nivaldo foi tentar a sorte em Toritama, polo têxtil do Agreste pernambucano. Na cidade, o ex-atleta arrumou um emprego na empresa Império do Forro do Bolso, mas a vida resolveu lhe pregar mais uma peça. Por causa da compra de lençóis de hospitais dos Estados Unidos, a empresa foi multada e virou manchete em todos os jornais do país. O escândalo nacional fez com que a empresa fechasse as portas e Nivaldo perdeu o emprego.
     Foi aí que teve a noção do que o amor pelo clube de coração pode despertar nos torcedores. Quando ficou sabendo que Nivaldo estava de saída de Toritama, por não ter conseguido um emprego, um alvirrubro que havia vibrado bastante com seus gols, foi às rádios da cidade para fazer campanha com objetivo de arrumar um emprego para Nivaldo.
     A campanha realizada por Sandro Roberto, conhecido entre os amigos como Negão, logo deu frutos e Nivaldo passou a trabalhar em uma lavanderia da cidade. O salário está longe de ser o que um dia o atleta já ganhou, apenas R$ 170 por semana, mas o ídolo alvirrubro se diz feliz com a conquista de seu maior bem: os amigos.
     Nivaldo fez questão de deixar um recado para os jogadores que estão começando na carreira.

- A bebida acabou comigo, me destruiu e hoje não sou metade do que um dia já fui. Então, eu espero que as pessoas não sigam meu exemplo. Aos 43 anos, Nivaldo quer recomeçar. Então, que seja bem-vindo à vida.

Fonte: globoesporte.com