Por Juca Kfouri
Humildes, os bicampeões mundiais argentinos deixavam a iniciativa do jogo a cargo dos tricampeões alemães.
Que
se insinuavam com seu sedutor toque de bola, mas eram bravamente
rechaçados num árduo combate que permitia aos sul-americanos serem
sempre mais perigosos nos contra-ataques.
Com 15 minutos, o quadro era esse: domínio germânico, perigo platino.
À
torcida brasileira restava apreciar e, de quando em vez, lembrar aos
visitantes aos brados de “pentacampeão” que, apesar de tudo, enfim…
Não
é que aos 20 o gigante Kroos recua mal uma bola e deixa Higuaín na cara
do gol para desperdiçar da marca de pênalti uma bola imperdível?
Equilibradíssimo,
o jogo volta à sua toada, organização com talento na posse de bola
contra disciplina tática e pertinácia para roubá-la.
Lionel Messi
pega pouco na bola, mas, quando pega, apronta e deixa em maus lençóis a
retaguarda alemã, como no gol bem anulado aos 29.
Em seguida, grogue depois de um choque, Kramer tem de sair para entrada de Schuerrle.
Irritados,
os alemães, quem diria?, começam a abrir a caixa de ferramentas e tanto
Scheweinsteiger como Hoewdes são devidamente amarelados.
A Argentina é muito, mas muito mais perigosa, aos 35 minutos.
Mas é a Alemanha que, aos 36, cria sua primeira chance.
O jogo é bom, muito bem disputado e tremendamente interessante para quem curte táticas e estratégias.
A
Argentina marca em seu campo sem trégua e se aproveita do espaço nas
costas dos ofensivos alemães, nem sempre guardadas pelo “líbero” Neuer.
Messi
recebe em impedimento e em velocidade vertiginosa chega no goleiro e
lhe aplica o drible da vaca, sem conseguir concluir, para sorte do juiz
italiano.
A Alemanha responde em seguida e Romero segura.
No último minuto, Hoewedes sobe no escanteio e cabeceia violentamente contra a trave argentina.
Sorte de campeão?
Sessenta
anos depois da “Batalha de Berna”, os alemães se viam diante de um
adversário que se não tinha a magia dos húngaros tinha o desejo de se
vingar da final em Roma, em 1990.
Era a “Batalha do Rio de Janeiro”.
E
nos cinco primeiros minutos do segundo tempo a Argentina chegou três
vezes com chances de gol, a terceira delas, nos pés de Messi, menos
imperdível que a de Higuaín, mas ainda assim imperdível.
Aguero jogava no lugar de Lavezzi.
O
Maraca tinha menos camisas amarelas e alemãs que azuis, mas, juntas, as
gargantas que as vestiam faziam mais barulho que os argentinos.
Aos
12, Neuer atropelou Higuaín dentro da área e o árbitro europeu em vez
de dar o pênalti marcou falta do atacante sul-americano, um absurdo
O 0 a 0 já não era mesmo justo.
Mascherano erra pela segunda vez, faz falta e leva o amarelo.
Em seguida Aguero pega Scheweinsteiger e também leva o seu.
Aos 70 minutos de jogo os alemães parecem mais inteiros, mas, também, mais irritados.
E os argentinos parecem especular com a prorrogação.
Ainda
bem que é proibido fumar no estádio, não só pelo bem que faz à saúde
como, também, porque quem acendesse um fósforo poderia explodir o
estádio.
Diante de 74.738 torcedores tudo, simplesmente tudo poderia acontecer.
Alejandro Sabella resolveu tentar com Palacio e tirou Higuaín.
Messi fazia das tripas coração, mas era pouco.
Os alemães, quem diria?, também simulam pênaltis…
Quem gritava “Deutschland” começa a pedir por Podolski, mas a Alemanha ensaia uma blitz.
Perez sai, Gago entra.
Sabella pensa no empate e numa bola de prata, de ouro, a do tri.
A Alemanha troca Klose por Goetze.
O maior artilheiro da Copas sai em branco da finalíssima, intensamente aplaudido.
Serão três os minutos de acréscimos e Alemanha perde um contra-ataque bisonhamente.
Pernas presas, pesadas, pelo cansaço e responsabilidade.
Vem aí a prorrogação.
A
Copa não quer acabar no Brasil, mas, lembremos: a Alemanha treinou na
semifinal contra o Brasil e, no dia seguinte, a Argentina foi aos
pênaltis contra a Holanda.
Logo de cara, a Alemanha quase marca.
E Palacio, em seguida, tem a chance ainda mais clara, encobre Neuer, mas para fora.
As melhores oportunidades seguem da Argentina e o domínio permanece alemão.
Só que perder tantos gols numa final é complicado.
Esgotados no gramado, o combustível dos jogadores vinha das arquibancadas que, estas sim, não pareciam nada cansadas.
Que espetáculo inusitado, único mesmo, jamais visto num estádio brasileiro.
Mais 15 minutos sem gol.
Mais 15 minutos para um gol.
Lembremos, tanto o Brasil quanto a Itália chegaram aos tetras nos pênaltis e depois de 24 anos de seus tricampeonatos.
Imagine a angústia do deus dos estádios.
Um novo Maracanazo, mas para os argentinos?
O primeiro título europeu na América?
O empate 10 a 10 nos títulos, para tirar a vantagem da Europa?
Como os alemães fizeram quatro gols em seis minutos no Brasil, sete em 90, e lá se vão 105 minutos sem um golzinho na Argentina?
Está
valendo tudo, Aguero merecia ser expulso ao tirar sangue de
Scheweinsteiger que volta a campo bravamente, aparentemente depois de
levar pontos no rosto, a frio, pernas seguras pelo massagista enquanto o
médico trabalhava.
E aí brilha a estrela de Joachim Loew, porque Goetze recebe um cruzamento da esquerda, mata no peito e põe a Alemanha na frente.
Para ganhar tempo, a Alemanha troca Özil por Mertesacker.
Mais dois minutos de acréscimos e Messi tem falta perigosa para bater.
Bate nas alturas, o deus dos estádios pega a bola e decreta o tetra.
Os argentinos, bravíssimos, vivem o “Último tango no Rio”, depois de uma batalha em que ambos mereciam o título.
Verdade
que, além do mais, os alemães foram também os campeões da simpatia
desde que chegaram e descobriram o Brasil na Bahia, mais exatamente em
Cabrália.
Fonte: uol.com,br