O TEMPLO DO ESPORTE DEU LUGAR A UMA "ARENA" SEM ALMA
O Maracanã já foi do povo, tentou ser da elite e hoje é de ninguém. Em seus 68 anos de existência, vem cumprindo um destino que tinha tudo para ser grande, imenso, mas que acaba sendo o mesmo de velhos estádios demolidos em nome do progresso. Só que, para o Maracanã, o progresso andou para trás. O que já foi o maior, o mais famoso, o mais sagrado templo esportivo do mundo, é hoje um monumento à incúria.
Quando o Flamengo desembolsou R$ 1 milhão para que os refletores do estádio possam iluminar seus 4 x 0 sobre o San Lorenzo (e outros tantos reais para que a torcida testemunhe a vitória com um mínimo de respeito), ficou claro que o Maracanã já não era mais o mesmo - e não só arquitetonicamente. Não era o mesmo no corpo e na alma.
Sim, certos estádios de futebol têm alma. O primeiro Wembley, O Santiago Bernabeu, La Bombonera tinham até personalidade. Dizia-se que eram estádios "que jogavam", pois era difícil a uma equipe visitante resistir à temperatura da torcida local. O velho Maracanã, ao contrário, sempre se impôs pela neutralidade. Não jogava e deixava jogar. Sua alma estava justamente em permitir que, maior que fosse o coro das arquibancadas, ali sempre podia vencer o melhor.
...Também não se exagera quando se diz que o Maracanã se elitizou. Ou melhor, voltou-se para uma elite capaz de pagar caro por um espetáculo antes barato. Qualquer um podia desembolsar quase nada para ver seu time jogar no velho Maracanã, é verdade que o sol ou a chuva, em pé, pescoço espichado, como todo fiel "geraldino". Mas mesmo o ingresso da arquibancada custava pouco, tão pouco que podia ser adquirido pelas 120 mil pessoas que tomavam os degraus de cimento em dias de lotação esgotada;
FLA X BOCA/ ZICO X MARADONA |
Como em 1948, as obras do novo Maracanã foram feitas com dinheiro público. De início, algo próximo a R$ 1 bilhão. Claro, somem-se a isso mais R$ 211 milhões em nome dos superfaturados. Uma vez concluída, a "arena" foi entregue de graça ao grupo de empreiteiros.
Em resumo, o velho Maracanã já não existe. E o novo, adormecido, fechado, abandonado, quase esquecido, sem dono, sem futuro, sem alma...não é de ninguém.
Por João Máximo (Jornalista e escritor)